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Terapêutica não farmacológica:Cirurgia e estimulação profunda do cérebro

O tratamento da doença de Parkinson com a cirurgia era uma prática comum, mas após a descoberta da levodopa, a cirurgia foi restrita a apenas alguns casos. Os estudos realizados nas últimas décadas levaram a grandes melhorias nas técnicas cirúrgicas o que levou ao reaparecimento do recurso a cirurgia em pessoas com DP avançada ou que são resistentes à medicação, ou em casos em que os doentes não podem tomar os medicamentos por efeitos laterais.
 
Atualmente, o meio mais utilizado de tratamento cirúrgico é a estimulação cerebral profunda (DBS) apesar de existirem outras, tais como a lesão cirúrgica do núcleo subtalâmico e do segmento interno do globo pálido, um procedimento conhecido como palidoctomia.
 
A palidoctomia melhora os sintomas de DP, incluindo rigidez, bradicinesia e anormalidades da marcha, bem como as complicações de longo prazo do tratamento com L-DOPA (discinesia e distonia do estado off). O alvo original da palidotomia estava na parte medial e ântero-dorsal do núcleo. Esta chamada "palidotomia medial" efetivamente aliviava a rigidez, mas melhorava inconsistentemente o tremor. Leksell, moveu o alvo para as partes ventral e lateral, resultando numa melhoria sustentada em 96% dos pacientes.

A DBS foi usada pela primeira vez na década de 1970 para o tratamento de dor crônica. Os resultados mistos e o desenho precário dos elétrodos causaram uma parada da atividade significativa neste campo  na década de 1980, mas, no decorrer dos últimos anos, a DBS reemergiu como tratamento para distúrbios dos movimentos. A cirurgia consiste em colocar profundamente no cérebro dois elétrodos (um de cada lado), em que cada um controla o lado oposto do qual está colocado. Os elétrodos vão depois provocar pequenas e múltiplas descargas elétricas no núcleo profundo do cérebro, o núcleo subtalâmico. Os dois elétrodos estão ligados por cabos (que ficam debaixo da pele), a uma bateria, que funciona como gerador de corrente, colocada no tórax, abaixo da clavícula. A bateria dura cerca de 5 anos, apesar de estarem a surgir no mercado as baterias recarregáveis, mas ainda a um preço muito elevado. As principais vantagens da DBS são a reversibilidade e a ajustabilidade. Como o elétrodo de DBS é implantado, os médicos têm acesso constante ao local-alvo, permitindo-lhes ajustar os parâmetros da estimulação. Se a estimulação induzir efeitos adversos não desejados, o estimulador poderá ser desligado, ajustado ou removido. As vantagens adicionais incluem a capacidade de intervir em alvos que não possam ou não devam ser lesionados e o fornecimento de uma oportunidade singular para estudar a fisiologia dos núcleos da base humanos. A principal desvantagem da DBS é o custo elevado. Desvantagens adicionais incluem aumento do risco de infeção devido à presença de hardware implantado e o custo da manutenção. A DBS, foi introduzida em Portugal em 2002 pelo Hospital de S. João, onde é utilizada também no tratamento do tremor essencial e da distonia (contrações involuntárias que causam movimentos espasmódicos e posturas anormais), e mais recentemente a epilepsia.
 

 
 
    
Neste momento já é feita em mais quatro hospitais em Portugal, nomeadamente: Hospital de Santo António (Porto), Hospitais da Universidade de Coimbra, Hospital de Santa Maria (Lisboa) e Hospital dos Capuchos (Lisboa). O total do tratamento varia entre os 30.000 e os 35.000 euros (cerca de 20.000 euros em material implantado mais os custos de internamento, cuidados médicos e de enfermagem).
 
É importante relembrar que a cirurgia de Parkinson não é sinónimo de cura da doença, mas antes um tratamento que tem vindo a apresentar muito bons resultados (reduzindo cerca de 70% dos sintomas) em formas graves e selecionadas da doença. O grande tratamento continua a ser feito através de medicamentos, que permitem uma melhoria da qualidade de vida durante muitos anos.

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